Profissionais
de saúde estimam que quase 10 milhões de homens no Brasil sofrem de
depressão. A maioria deles é capaz de admitir que a vida "está sem
graça", mas só uma minoria ousa reconhecer que há algo errado com suas
emoções. Isso seria visto como sinal de fraqueza, "coisa de mulher".
Historicamente, ainda que de forma equivocada, o
homem se vê como o grande caçador, guerreiro, que nunca pode distrair-se
ou fragilizar-se. Mas, em termos mundiais, os homens tentam o suicídio
quatro vezes mais que as mulheres – e com maior possibilidade de
sucesso.
Durante muitas décadas, talvez séculos, a sociedade
tem visto os sintomas da depressão como "femininizados" e então temos
sido induzidos a pensar que a depressão é "um problema de mulher". Não
estamos dispostos a aceitá-la nos homens, a menos que vejamos claramente
neles a mesma série de sintomas.
O problema é que os sinais da depressão normalmente
observados na mulher são menos comuns nos homens. Os percebemos nas
mulheres principalmente quando exploramos os seus sentimentos. Nos
homens, é prestando atenção à sua conduta. Resumindo: as mulheres sentem
a sua depressão; os homens atuam com ela .
As estatísticas mostram que, para cada duas
mulheres, há um homem com depressão. Quando as mulheres sentem-se
tristes, buscam contato com amigas ou procuram algo alternativo;
enquanto os homens libertam a sua depressão através da frustração,
isolamento e da ira. Tornam-se irritáveis, enfiando-se na sua "concha" e
dando aos seus próximos "o silêncio como resposta". É este disfarce que
caracteriza a depressão masculina.
O que os difere não é a vulnerabilidade à depressão,
mas a capacidade de admiti-la. Enquanto as mulheres vão ao médico nos
primeiros sintomas da doença, os homens só procuram tratamento quando a
depressão já está em estágio avançado; o que configura um comportamento
de alto risco: a depressão amplia para mais que o dobro de chances do
homem desenvolver doenças cardíacas, câncer, diabetes e outras doenças,
além de provocar um envelhecimento masculino mais acelerado e
deficiência de testosterona.
Ser despedido do trabalho pode ser tão devastador
como a morte de um pai. É a personalidade histórica do homem: o grande
caçador e provedor, que nunca pode se deixar abater.
Na depressão, boa parte dos homens recorre ao álcool
para camuflar a tristeza e seu uso constante só faz agravar os sintomas
problemáticos. Outros recorrem ao fumo, às drogas, ao sexo compulsivo.
As esposas, mães e filhas de homens deprimidos
necessitam de toda a ajuda que possam receber para superar essa
dificuldade, pois é muito difícil este convívio. Eles também frustram e
perturbam aqueles que mais os amam. É como se sentissem necessidade de
culpar alguém pela sua depressão, e aqueles que mais os amam são os
alvos mais fáceis.
O que de melhor elas podem fazer pelo ente deprimido
é, sem dúvida, comunicar amor e aceitação com todas as forças que
possam, porque ele não escolheu estar deprimido. As mulheres necessitam
compreender que a má conduta do homem tem como causa da sua depressão e
não ele próprio.
É importante que os homens saibam que a depressão
não é um sinal de fraqueza, mas sim um problema de humanos, para o qual
há atendimento e tratamento.
Ignorá-la ou não aceitá-la é, certamente, a pior alternativa.
* Alessandro Vianna é psicólogo clínico e sente um enorme prazer em estudar e entender o comportamento humano. Clique neste link para conhecer melhor o seu trabalho.
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