quinta-feira, 12 de abril de 2012

SOLIDÃO FAMILIAR: A AUSÊNCIA DE QUALIDADE EM MUITOS LARES;;;;


Solidão familiar: a ausência da qualidade em muitos lares

Quando falo neste assunto, gosto de iniciar com uma reflexão de nosso dia a dia dentro de casa, pensando: “Quantas vezes durante um único dia consigo realizar as refeições com meus filhos?”. “Quando realizo as refeições com meus filhos, consigo trocar ideias com eles ou as ideias acabam virando discussões?”.

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Esta é uma reflexão que vem tomando conta de meus pensamentos há muito tempo. Ouço muitos pais alegarem que não importa a quantidade de tempo que tem para seus filhos e sim a qualidade. Que qualidade é essa que podemos ter com tantas preocupações, pressões do dia a dia, conflitos gerados pelo stress? Estamos vivendo um momento muito complicado em nossas vidas. Percebo que a questão tempo nem é tão importante assim para dedicar aos nossos filhos, mas sim a forma como estamos administrando este tempo.

Como somos pacientes para a dedicação deste tempo com tantas coisas a resolver? Esta preocupação me intriga muito, justamente porque o estresse do dia a dia está nos tirando a oportunidade de vivenciar experiências junto aos nossos filhos, nos impossibilitando de ajudá-los a adquirir valores básicos através de exemplos de vida, do próprio dia a dia.

Sabemos que os valores são construídos através de exemplos de atitudes, então reflito:
- Que exemplos damos aos nossos jovens filhos?
- Será que eles têm a noção de família que tivemos?
- Que futuro, construiremos para eles, se sempre estamos ocupados e sem paciência para ouvi-los ou prestar atenção de como estão, com quem andam ou o que pensam?

O que posso percebo trabalhando há duas décadas com os jovens é que os valores estão totalmente distorcidos. Nossos jovens hoje não têm crença ou religião, são muito imediatistas e estão acostumados a receber tudo pronto e na hora.

Claro que eles são assim, porque assim aprenderam. E, de certa forma, foram reforçados por nós mesmos a desenvolver este comportamento. Nossa ânsia de proteção para os jovens vem sendo tão intensificada nestes últimos anos que contribuímos diretamente para o desenvolvimento de uma estrutura emocional fragmentada, fragilizada. Conflitos são vivenciados por eles de forma radical, impulsiva e instintiva e sentimentos de frustração e fracasso, acaba ganhando espaço nessa estrutura emocional.

Diante disso,  nos deparamos com jovens sem poder de criação, sem espírito crítico, desestimulados e sem vontades. Estamos fazendo para eles justamente o que esperam de nós, adultos coniventes e facilitadores de atitudes e pensamentos. Pra que um jovem precisa pensar, criar e construir, se tudo lhe vem pronto?

Precisamos rever nossa postura enquanto pais, educadores e formadores de opiniões, deixar que nossos jovens vivenciem, experimentem a vida com tudo que ela oferece. Claro que sempre orientando, apoiando-os, mostrando o que é certo ou errado.

Mas não devemos impedir que eles vivenciem suas experiências e que possam, através delas, ter pontos de referência positivos e negativos, sentir fracassos e frustrações, vivenciar angústias e medos, inseguranças, prazeres e desprazeres, a fim de que possam aprender a articular conflitos de forma positiva e consistente, traçando metas e objetivos, criando uma base dentro de si a ponto de ser capaz de enfrentar situações contraditórias ou conflituosas de maneira equilibrada, dando-lhe condições para enfrentamento e resolução de forma equilibrada e com discernimento.

Para isso, é necessário curarmos a doença da solidão familiar. Solidão não é sinônimo de ficar sozinho, pois podemos ficar juntos estando só. A cura da solidão familiar está no “estar presente” de maneira integral e não temporal; é promover situações nas quais o diálogo aparece como protagonizador do equilíbrio familiar.

A cura está no prazer de “estar junto”; de trocar informações, sentimentos, emoções, sejam eles positivos ou negativos. É isso que nos faz sentir-se importante e crescer com uma estrutura emocional segura, forte e sem medo de enfrentar situações surpresa ou inesperadas, nos tornando adultos preparados para viver e encarar ar a vida de forma preciosa e feliz.

* Alessandro Vianna é psicólogo clínico e sente um enorme prazer em estudar e entender o comportamento humano. Clique neste link para conhecer melhor o seu trabalho.

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