sexta-feira, 9 de março de 2012

CANINOS MAIS CORAJOSOS E MENOS ATREVIDOS"!!!

  • Caninos mais corajosos… e menos atrevidos!


    Ayrton Mugnaini Jr., especial para o Yahoo! Brasil08 Mar 2012 08:03:44
    Numa tarde no fim dos anos 1970, fui visitar uma tia e suas três “filhas” – uma pequenesa pura, uma pequenesa mestiça e uma chihuahua. E eu estava com minha nova companheira: uma guitarra da marca Snake semi-acústica, bela réplica daquelas Gibson pretonas que muita gente associa ao grande B. B. King.
    Fui muito bem recebido por quase todas – menos Fofa, a mestiça, que ficou assustada como nunca ao me ver com a guitarra. Foi preciso minha tia pegar Fofa no colo e acalmá-la por uns dez minutos, “calma, Fofinha, não tenha medo, isso é uma guitarra elétrica, é moderno!” Sim, Fofa poderia competir com alguém bem mais famoso: ele mesmo, Coragem, o Cão Covarde, aquele cachorrinho de desenho animado que tem medo de absolutamente tudo – mas sempre consegue fazer jus ao nome e arrumar coragem para vencer os maiores inimigos.
    Levando em conta a finalidade cômica deste desenho animado e, apesar das boas intenções de minha tia, nota-se que Fofa e Coragem não foram devidamente socializados. Coragem era um filhote abandonado que foi recolhido por um casal de meia-idade; Muriel, a “mãe” o enche de carinho, mas o “pai”, Eustácio (originalmente Eustace, melhor traduzível como Eustáquio), vive resmungando com tudo e com todos, inclusive Coragem (“cachorro idiota!”). Não cheguei a conviver com Fofa o suficiente para ela perder o medo de objetos estranhos como guitarras elétricas – os objetos mais perigosos que ela encarou na vida. É verdade que a cidadezinha onde mora Coragem dá motivos à vontade para medo, sempre visitada por monstros, alienígenas e outros personagens aterrorizantes, e nosso amigo não recebe muito incentivo para enfrentá-los além do “incentivo” entre aspas dos gritos de “cachorro idiota!”.
    Não é preciso ter uma guitarra Snake ou morar numa cidadezinha mal-assombrada para encontrar caninos medrosos. Basta ter campeonato de futebol, festa de Ano Novo ou qualquer ocasião que inclua foguetes, rojões e muita agitação para eles ficarem assustados e desorientados. Nem precisa ser dia de festa: muitos cães se assustam com relâmpagos, trovões e escapamentos de automóveis – ou, mais exatamente, com os estímulos associados a essas e outras mudanças bruscas de iluminação e som.
    Vamos a um de nossos guias gerais de como ensinar nossos amigos caninos a perder este medo – e a não ficarem “corajosos demais” a ponto de reagir violentamente quando, por exemplo, crianças pequenas mexem no prato de comida.
    Para começar: medo de quê?
    Na convivência, vamos descobrindo o que costuma assustar os cães. Alguns se apavoram apenas com rojões ou trovoadas, outros até com vozes humanas mais graves que o normal. Nem sempre é medo, apenas um grande incômodo, já que a audição canina é bem mais sensível que a nossa – e, por sinal, este incômodo pode causar no cão ansiedade e, portanto, medo de algo que o incomode.

    A primeira providência é deixar claro para o canino que ele pode contar com você para ajuda e proteção. Se ele tem medo de relâmpagos e trovões ou fogos de artifício, deixe-o entrar logo que eles começarem – não só para ele ter certeza de que está protegido pelo dono, mas também para evitar que ele se machuque se deixado solto e apavorado na rua ou no quintal.
    Estando o bicho dentro de casa, se ele ainda assim quiser se esconder do barulho debaixo de algum móvel ou em um quarto ou armário, não o impeça; ao contrário, procure deixar esse local mais confortável para o cão. Afinal de contas, muitos de nós também gostamos – ou gostaríamos – de ter um quartinho ou espaço onde possamos nos esconder do mundo em momentos de tristeza ou tensão, não é? Se você, por mero acaso, não gostar que o cão invada o armário e amasse ou encha de pêlos as roupas e sapatos, providencie uma caixinha para ele se abrigar; um cobertor ajudará para dar mais segurança e até abafar um pouco a barulheira. E o cão sairá do “bunker” sozinho logo que o ruído terminar.
    (Detalhe: se a caminha ou “esconderijo” do cão ficar dentro de um quarto ou sala, não feche a porta durante o foguetório ou tempestade, para evitar que ele se sinta preso ou abandonado e se assuste mais ainda!)
    Citei em outro artigo a frase de Erasmo Carlos, “proteção desprotege”. Que o diga, ou cante, a cantora, jornalista e produtora cultural Ana Paula Xavier, “mãe” de Ozzy, um dachsund, e Moya, uma rottweiller. Quando filhote, há três anos, Ozzy só demonstrava um medo: de Moya, quando ela latia alto demais. “Ele dava uma choradinha, e eu não faço nada, porque acho que ficar paparicando só aumenta o medo”, disse Ana quando falei com ela na ocasião. “No máximo, eu o afasto dela quando ela late muito para estranhos que passam na rua, porque ela é grandona e quando se agita pode até pisoteá-lo.” De lá para cá, Ozzy cresceu e perdeu esse medo.
    Transformando medo em prazer
    Um bom método de fazer o canino perder o medo de ruídos estranhos é associá-los a alguma coisa que lhe dê prazer. Logo que começarem os fogos ou trovões, converse com ele usando sua voz mais calma, dê-lhe carinho e deixe-o à vontade com seus brinquedos (dele!), recompensando-o se ele ficar sentado e não demonstrar medo. Atenção: só recompense o bicho se ele NÃO tentar fugir ou demonstrar medo; caso demonstre, não tente acalmá-lo com mimos, pois ele pode interpretar isto como prêmio e incentivo por ser medroso!
    Há outro método, que exige do dono mais tempo, paciência e tecnologia, mas vale a pena – e que tem até um nome pomposo e bonito: “dessensitização”. Quando você identificar os barulhos que assustam seu cão, faça cópias deles em CD, cassete, MP3 ou o que estiver à mão e ponha para seu cão ouvir, começando em volume baixo e aumentando gradativamente – ou melhor, graaaa... daaaa... tiiii... vaaaa... meeeennnn... teeee, aos pouquinhos mesmo; a tendência será de o cão reagir cada vez menos até se acostumar com o ruído e perder o medo. E já que você se animou a mostrar que sabe gravar ou pesquisar discos ou fitas, gravações relaxantes de new-age, música erudita suave e efeitos sonoros de mar e fogueira também ajudam a acalmar o cão e neutralizar os ruídos assustadores – só não aumente muito o volume, para não deixar o peludo ainda mais assustado. Os efeitos da dessensitização costumam aparecer em trinta dias.
    Mais um detalhe: não demonstre medo ou nervosismo, nem trate ruídos altos como grandes tragédias; comporte-se e fale normalmente ou com mais calma, não mais nervosismo, que o normal. Não só caninos ouvem melhor que humanos, eles também percebem melhor quando os donos estão tensos ou assustados, o que não ajuda muito na hora de acalmar os bichos.
    E se não houver outro remédio...
    Assim como muitos humanos necessitam de medicamentos antidepressivos, alguns caninos devem ser medicados para suportar muito ruído. Lembramos que medicação antidepressiva, homeopática inclusive, costuma ser mais segura e ter efeito mais duradouro que calmantes ou sedativos. Lembramos também que não se deve ir atrás de chutes ou sugestões de amigos; nada de ir dando remédios ao cão sem antes levá-lo ao veterinário.

    É sempre bom ter à mão o telefone não só do veterinário, mas também de uma clínica veterinária 24 horas, caso seu amigo peludo precise bem no meio do jogo ou passagem de ano; o “aguenta coração!” dos locutores pode valer para ele também.
    Coragem que vem do medo
    Como já afirmei em outra ocasião, muitas vezes a “coragem” do cão vem entre as mesmas aspas do “incentivo” do Sr. Eustácio, ele (o cão) ataca movido a susto ou nervosismo. Um caso típico é o cão que ataca quem mexer, mesmo que acidentalmente, em seu prato de comida, inclusive os donos, sejam adultos ou crianças.

    Já afirmei e repito: o cão tem que entender que, mais que donos, você e seus filhos são amigos dele, não inimigos que lhe querem roubar a comida, e precisa até gostar quando os donos vêm mexer em seu prato, porque sabe que vai ganhar carinho ou um petisco. O ideal é começar a alimentar o amigo dando-lhe comida na palma da mão, e depois, a cada vez que lhe servir comida, mexa na gamela, começando por uma mexidinha e, com o tempo, enfiando a mão na comida mesmo. Daí que, se alguém chutar sem querer o prato ou uma criança bulir na comida, ele não se sentirá ameaçado.
    Agora, cães treinados para caça ou guarda podem atacar pessoas que de repente saírem correndo, pensando que são inimigos em fuga, inclusive crianças, que costumam se mover mais rápida e erraticamente que adultos – e energia pega! Do mesmo modo que, como lembrei acima, um ser humano nervoso pode deixar um cão também nervoso, muita agitação e inquietude podem fazer o cão entrar no clima, ficando agitado e inquieto – e a tensão e medo podem torna-lo agressivo e potencialmente perigoso. Daí que toda atenção é pouca quando crianças pretendem se aproximar de cães desconhecidos.
    Ter medo em si não é tanto problema; afinal, como dizia a tão ilustre quanto corajosa família circense alemã Wallenda, “só os idiotas não têm medo”. A questão está em descobrir, assumir, controlar e vencer o medo, seja de rojões, trovoadas ou guitarras Snake. E as pessoas podem ajudar o cão a vencer seus medos – do mesmo modo, pensando bem, que o cão ajuda as pessoas a vencerem seus medos de solidão, tristeza e insegurança.
Gostou dessa história? PEDIGREE® acredita que todo cão merece um lar feliz e por isso lançou o projeto Adotar é Tudo de Bom para ajugar cães abandonados.

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